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Museu da Diáspora Africana vai contar a história do último sanfoneiro dos Pontões de Pombal

O futuro Museu da Diáspora Africana, dos Povos Originários e das Comunidades Tradicionais da Paraíba vai recontar uma história de resistência e alerta cultural revelada recentemente por sua equipe de pesquisadores: em Pombal, Sertão paraibano, apenas um sanfoneiro mantém viva a tradição musical dos Pontões, grupo cultural da Irmandade Negra do Rosário.

O museu é uma iniciativa do Governo da Paraíba, coordenada pela Secretaria de Estado das Mulheres e da Diversidade Humana (Semdh), em parceria com a Secretaria de Cultura (Secult) e a Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior (Secties). O governador João Azevêdo já autorizou a licitação das obras de restauração do prédio histórico no Centro de João Pessoa, que abrigará o equipamento.

Durante vivência realizada junto à comunidade, os pesquisadores encontraram Francisco Daniel, 78 anos, morador de comunidade quilombola de Pombal e último herdeiro da tradição do fole no grupo dos Pontões. A prática, reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Paraíba desde 2021, está hoje concentrada em suas mãos.

Seu Francisco aprendeu a tocar o fole de oito baixos ainda menino, na década de 1950, com o tio Elias, também sanfoneiro da irmandade. Desde 2011, após a morte do tio, assumiu sozinho o papel de guardião da sonoridade que marca os cortejos da Festa do Rosário. “Comecei a tocar em 1956. Foram anos ajudando meu tio, até que precisei assumir o lugar dele. A sanfona é um instrumento difícil, não se aprende em dois ou três dias. É preciso dedicação, vocação e convivência com o grupo”, relatou o mestre.

A importância dos Pontões – Os Pontões compõem, ao lado do Congo e do Reisado, o cortejo da Festa do Rosário, que movimenta Pombal anualmente entre 2 e 12 de outubro. O grupo conduz a imagem da santa pelas ruas, em um ritual que mistura fé, música e dança, reafirmando a presença das tradições afro-brasileiras e quilombolas no Sertão.

Para o professor Stênio Soares, coordenador de uma das pesquisas do museu, a situação exige atenção urgente: “A sanfona é um elemento estético e simbólico fundamental nos Pontões. O modo de tocar da família Daniel atravessa gerações, sustentado pelo afeto e pelo pertencimento comunitário. Hoje, essa herança está restrita às mãos de Seu Francisco, e isso coloca em risco um elo importante da cultura popular quilombola.”

Preservação e políticas públicas – A secretária de Estado das Mulheres e da Diversidade Humana, Lídia Moura, destacou que a descoberta reforça a função estratégica do futuro museu como política pública de memória. “O alerta da pesquisa mostra que o Museu da Diáspora Africana não será apenas um espaço de exposição, mas um instrumento vivo de preservação. O modo de tocar o fole da família Daniel é um patrimônio sonoro da Paraíba. Precisamos articular iniciativas de formação e registro, em diálogo com a comunidade quilombola, para garantir a continuidade dessa tradição.”

Festa do Rosário: palco da resistência cultural – A Festa do Rosário, celebrada desde o século XVIII e reconhecida como patrimônio imaterial e histórico, atrai milhares de pessoas todos os anos a Pombal. A Irmandade Negra de Nossa Senhora do Rosário, criada em 1786, resiste até hoje como símbolo da presença negra no Sertão, reunindo expressões religiosas, cânticos, danças e rituais que mesclam o catolicismo popular com matrizes africanas e indígenas.

Com a autorização das obras e o avanço das pesquisas, o futuro Museu da Diáspora Africana prepara-se para ser não apenas guardião da memória, mas também voz ativa na preservação de tradições em risco, como a sanfona dos Pontões de Pombal.

 

 

Secom-PB

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